quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

DESEJOS DE VITOR HUGO


DESEJOS - VITOR HUGO

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.


Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.


Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.


Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.


Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.


Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.


Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.


Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.


Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.


Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.


Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar ".



Vitor Hugo viveu entre 1802 a 1885 na França - Escritor e poeta de grande atuação politica em seu país. A imagem é um desenho de Victor Hugo: Le Rocher de l'Ermitage dans un paysage imaginaire, 1855.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

CONFISSÕES AO VENTO I


Confesso que estar com a saúde debilitada faz-me constantemente refletir sobre minha existência, sobre meus caminhos trilhados. Fazer acompanhamento medicamentoso para depressão, síndrome do pânico e outras questões psíquicas nunca esteve nos meus planos. Ter que tomar dezenas de comprimidos, evitar algumas atividades e procurar viver menos afastado das demais pessoas, é tudo o que não queria para momento, mas vou tentar fazer isto, nem que seja para fazer valer a pena as centenas de reais gastos em consultas médicas e remédios, caríssimos, aliás.

Confesso, por ter falado em planos, que já não os tenho. Talvez seja por isso a que minha saúde esteja debilitada. Quase todos meus últimos planos no último verão não foram pra frente, seja porque confiei muito em mim, nas promessas dos outros ou mesmo na sorte. A partir disto, penso: para que tê-los? Sofrer, caso não ocorram? Prefiro ir vivendo a vida, deixando que ela trace as ladeiras que terei que percorrer, cada uma no seu tempo, isto é se tenho mesmo que percorrê-las. Pelo andar da carruagem, creio que muito em breve estarei liberando meus cavalos para outros donos.

Confesso que me sinto culpado pelas atuais circunstâncias onde o tédio me detém com uma força que não há solução na fé, na razão ou na boa intenção alheia. Culpo-me por ter ora achado-me mais esperto do que os outros, ora mais inocente do que deveria ter sido. Ora falar mais do que devo, orar silenciar-me mais do que necessário. Há coisas que precisam ser ditas, mesmo que óbvias. Ás vezes, não me dou conta disto!

Confesso que fico puto com a existência de dois pesos e duas medidas em instituições sociais que deveriam prezar pela equidade entre seus membros, pela respeitabilidade, pela razoabilidade das decisões, pelos princípios da ampla defesa e do contraditório. Aliás, fico de tal forma por ver que a imperatividade da lei fria ainda impera em muitos corações que propagam conhecer uma nova mentalidade e estilo de vida, onde a inclusão e a valorização da dignidade humana pessoal e recíproca são elementares. Dois pesos e duas medidas é justiça morta, fria, insalubre, ineficaz, com ardor de podridão e hipocrisia, exalados pelos orgulhosos ‘cátedras’ que por hora tomaram o poder, e embriagados pela sua fascinação, mandam e desmanda como ditadores, em nome de um entidade, que passa longe daquilo tudo.

Ufa, vento digere isso aí! Até breve!

domingo, 15 de fevereiro de 2009

O MELHOR LUGAR DO MUNDO

No mundo ainda existem belezas
que alegram a vida e nos fazem sonhar.
Recantos felizes da natureza,
onde qualquer ser humano gostaria de estar.
Mas de todos os lugares o mais bonito e inspirador
É onde fico em oração junto aos pés do Salvador

O melhor lugar do mundo é aos pés do salvador,
É ali onde a esperança trás alívio ao sofredor.
É ali onde eu me encontro com a fonte do amor.
O melhor lugar do mundo é aos pés do Salvador!

Sonhamos com casas que tenham conforto,
talvez numa encosta com vista pro mar.
Mas as maravilhas não fazem sentido
se Cristo não está em primeiro lugar
Ao sentir a paz de Deus,
o seu poder e amor profundo
Eu posso estar onde for, estou feliz
por me encontrar no melhor lugar do mundo...

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

E O POVO FALA, O POVO FALA MESMO!


Basta acontecer algo anormal para as línguas maldosas ficarem todas eufóricas para comentar, e em questão de segundos, a notícia, às vezes até irrelevante, espalha-se à quatro cantos, toda contorcida, aumentada, e quem sabe, até mesmo totalmente alterada.

Hoje é assim: se te vêem na companhia de uma moça, é sua namorada. Se te vêem na companhia de um rapaz, duvidam da sua sexualidade. Se te vêem num bar tomando guaraná, a notícia é que você quer superar a fama do Zeca Pagodinho. Se você passa na rua onde há uma boate, você fez até strep tease por lá. Se alguém da sua empresa ou repartição é detido para prestar esclarecimentos sobre qualquer investigação, você já foi julgado e condenado como um marginal, ladrão, assassino e outros adjetivos carinhosos. Se você engorda, você é folgado. Se você emagrece, está com câncer. Se você anda de carro popular, é pra disfarçar. Se você anda com o carro da moda, deve está aprontando. Se a moça engorda, embuchou. se emagreceu, é porque levou um pé na bunda. Se está desempregado, é porque não procura emprego. Se está trabalhando, o salário é pouco e a empresa não te valoriza. Se é educado, é um besta. Se é grosso, é um cavalo.

Se a crença comum de que a vox populi é vox dei for verdadeira, algo lá por cima ou por aqui mesmo, está descontrolado, fora do seu devido local. O povo parece ter um prazer quase hedonista, quase um orgasmo sexual, em detonar a vida alheia, em fazer da vida das pessoas uma calamidade. A língua coça, o veneno escorre pela boca e queixo a fora. Veja por exemplo o que se tornou o mundo das ‘celebridades’, é algo bilionário. Nunca se gostou tanto em falar da vida alheia!

Caso mais recente: Susana Vieira. Casou-se com militar metido a performista de primeira qualidade em quadra de escola de samba. Levou um chifre, pagou a conta do motel destruído, mesmo assim perdoou o marido, mas brigou denovo, se separou novamente. Ele, sem dinheiro e a fama que a senhorinha folgosa lhe proporcionava, foi pra televisão reclamar da atriz juntamente com a amante. Seu final: morreu entupido de drogas na garagem de um condomínio de luxo. A atriz selerepe com seus mais de 60 anos de idade, se diz gostosona, pronta pra outra, mas admite que ter medo de encontrar outro marginal. Coitada, tão inocente! Pergunto: e eu com isso? Sou filho, neto, bisneto, sobrinho, empregado, o escambau a quatro, alguma coisa dessa senhora saliente? Pra quê preciso saber disto? O que me acrescenta saber e acompanhar na TV todos os últimos acontecimentos de sua vida particular? Parece que saber e divulgar todos os detalhes das desgraças alheias é uma espécie de fortificante para alguns que, provavelmente, às escondidas, cometem coisas que podem ser consideradas muito piores do que as que se tornaram públicas, com a desgraça alheia divulgada pela mídia.

Você quer deixar um fofoqueiro frustrado? Fique em silêncio diante de suas perguntas, isso lhe impõe respeito perante o fofoqueiro. Ele irá se acalmar. Mas o verdadeiro fofoqueiro, este, não sossega até conseguir alguma informação, algo ‘bafão’, e quando obtém êxito fica todo excitado. Tem assunto para render, para meter a lenha por dias.

Sábio foi o autor de Eclesiastes que no capítulo 27 escreveu: “Na companhia dos tolos, guarda tuas palavras para outra ocasião. Sê de preferência assíduo junto às pessoas ponderadas” (v. 13). O problema do fofoqueiro é que ele não se dá conta de sua tolice, de sua baixeza, de sua mesquinhez, de sua futilidade.

Andar junto às pessoas ponderadas é o melhor caminho para não se contaminar com os venenos dos tolos fofoqueiros e para poder ser você mesmo em qualquer ocasião. Caso contrário, lembre-se da canção: “o povo fala, o povo fala mesmo...”

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

TETEL E PAULINHA: ETERNOS AMIGOS


Há muito tenho querido escrever o que hoje decidi fazer. Quero falar sobre estes dois acima. Quem os conhece, sabe quem são. E quem me conhece sabe a importância de ambos na minha vida. Tetel e Paulinha foram dois furacões que passaram na minha vida durante os três últimos anos, destruindo paradigmas que precisavam realmente deixar de existirem, alterando minha forma de ver e viver a fé cristã, sem a falsidade e a hipocrisia existente nas instituições coorporativas religiosas e nas comunidades religiosas, demonstrando que amizade não é estar todo o dia em contato, com sorrisos forçados, mas sim saber que de alguma forma ou outra, contribuímos para o crescimento do próximo como ser humano.

Me lembro da primeira vez que os ouvi. Estava eu interpretando quando os vi, na quadra. Tetel com os olhos arregalhados, temeroso. Paulinha séria, compenetrada como sempre, e Carol tímida. Com uma semana eu chorei feito uma criança pro Tetel, desesperado por uma situação, e ele assustado em ver um cara grande como eu chorando, que nem conhecia direito, com suas sábias palavras me deixou o primeiro aprendizado que me lembro até hoje, algo dito com outras palavras como: o tempo é o melhor remédio para vermos nossa real situação e avaliarmos o que os outros fazem de mal para nós. Aconselhou-me a acalmar e depois resolveríamos aquela situação. E de certa forma, resolveu. Seu apoio, àquela época foi fundamental para mim. Com o passar o tempo e com a aproximação começamos a viajar juntos: Tarumirim, Ipatinga, Mendes Pimentel e BH. Outro fato importante que me lembro de Tetel, foi no velório do meu avô. Ter presenciado a morte do meu querido avô no hospital e todo o procedimento de enterro me fragilizou e ali, pouco tempo antes de fecharem o caixão, eu despedia do meu avô, triste, choroso e Tetel veio até a mim, me abraçou (e foi engraçado porque Tetel é muito menor do eu... hehehe), passou a mão na minha cabeça e disse: "seja forte amigo"! Aquilo me marcou. Passei também momentos alegres com Tetel: o casamento do Junior, as nossas viagens com as conversas mais mirabolantes possíveis, mas sempre recheadas de sinceridade - e creio que por isso nos tornamos amigos, o congresso com surdos que organizamos em meio a um escândalo público que me deixou sem voz - e eu não tive nada com o acontecido. Enfim, Tetel passou na minha vida de forma intensa, demonstrando ser um homem como qualquer um: desmitificou na minha mente que sacerdotes são santos, que ser crente é ser etnocêntrico, que somos mais importantes que nossos defeitos, que a amizade, a sinceridade e o amor à família valem mais do que ministérios, bens, salários astronômicos, que status sociais.

Paulinha, a eterna Cuca. De Paulinha guardo a sinceridade. Não consigo me lembrar de nenhum momento que passei com ela onde ela tenha faltado com a sinceridade. Aprendi com Paulinha que a vida não são mares de rosas, que sofremos e que precisamos nos reconstruir tão como a fênix, que somos falíveis, mas que a graça de Deus e o amor dos nossos próximos são maiores que nossos erros e que, principalmente, devemos viver intensamente nossa vida, mesmo que tenhamos que pagar um preço por isso. Recordo-me também de nossos papos sobre músicas, nossa sintonia em gosto com Ana Carolina e Jorge Vercilo. Com a Paulinha eu até cantei em um casamento - tudo bem que os noivos eram surdos, que maldade! Mas creio que Paulinha salvou a música, até porque eu errei tudo. Ainda bem que os noivos eram surdos mesmo!

Hoje distante de vocês e também do que planejamos para nossas vidas (eu em Valadares e vocês não mais aqui), confesso que tem sido difícil não encontrá-los no contexto em que nos conhecemos. Mas confesso que em três anos vivi o melhor da minha vida, como ser humano, como cristão e como pecador! Reafirmei para mim mesmo conceitos e crenças as quais valorizo e descartei crendices, práticas e costumes que me faziam um religioso, somente.

Espero sinceramente que a vida ainda nos faça ficarmos próximos novamente. Mas se isso não acontecer queridos, saibam que vocês marcam minha existência e que os amo e os guardo com um carinho especial dentro de mim, sem qualquer ressentimento, julgamento. Vocês fazem falta pra mim! Só posso agradecer aos céus pelos momentos vividos, pelo aprendizado e pela nossa amizade: pura, simples e sincera! Que vocês sigam seus caminhos, felizes e certos que vocês são especiais e marcantes por onde passam.

E não se esqueçam: vocês se tornam eternamente responsáveis pelo o que cativam!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

APRENDENDO COM O TEMPO


Aprendi. Demorou muito, mas aprendi. O tempo é um exímio mestre. Ele me ensinou nos últimos dias que pessoas são mais importantes que suas crenças, que suas manifestações religiosas, e principalmente que brigar por 'propostas' religiosas, institucionais, não me leva a nada, não me traz benefícios, pelo contrário, afasta-me das pessoas, prejudica-me socialmente e principalmente interiormente, pois não coaduna com o que creio como correto.

Aprendi que cada ser possui sua espiritualidade. Saber lidar com ela, com suas manifestações práticas e sociais, é uma ESCOLHA individual. Não cabe a eu querer ser o salvador da pátria alheia. Posso e devo saber explicar a minha fé, mas isto não é e não deve ser sinônimo de intolerância, de xenofobia, de etnocentrismo, para com aqueles que vivem diferentemente da minha fé.

O valor da dignidade humana passa por isto: reconhecer que o ser humano tem o seu contato transcendental com o seu próprio deus (ou deuses), aquele que ele escolhe para se relacionar, e que devo respeitá-lo neste sentido. Tipificá-lo nas manifestações religiosas existentes é mero detalhe. O importante é o respeito ao direito de escolha do próximo. Em suma, em matéria de espiritualidade, hoje pra mim, é cada um por si...

Obrigado tempo, por estar a cada dia, pacientemente, me ensinando a ser uma pessoa melhor.