quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

PUBLICAÇÃO NO 1° SEMINÁRIO DE PESQUISA EM ARTE, DESIGN E COMUNICAÇÃO DA UNIVALE



Nos dias 29 e 30 de novembro de 2010 participei do 1° Seminário de Pesquisa em Arte, Design e Comunicação da UNIVALE - Universidade Vale do Rio Doce, onde foram propiciadas discussões ricas em torno de temas que refletem a efervescência da Comunicação na contemporaneidade, em um mundo globalizado, onde as novas tecnologias alteram o cotidiano das pessoas, para alunos da instituição e participantes.


Na oportunidade apresentei um trabalho científico, na categoria de painel, com o título baseado num texto produzido que publiquei neste blog no mês de outubro. O caderno de resumo do seminário já está disponível, neste link e meu material encontra-se na página 45. Abaixo transcrevo-o. Foi uma rica oportunidade de aprender mais sobre pesquisas e produções científicas, os avanços na área artística, do design e da comunicação.


Aspectos legais da acessibilidade comunicativa para pessoas com deficiência

EDMARCIUS CARVALHO NOVAES
Coordenadoria de Apoio e Assistência à Pessoa com Deficiência (CAAD)
edmarcius@hotmail.com



Palavras-chave: legislação, acessibilidade, comunicação, pessoas com deficiência

Área de Conhecimento: Linguística Aplicada - 8.01.06.00-5 



Introdução: Os meios de comunicação representam o direito à informação e entretenimento. Para as pessoas com deficiência faz-se necessário o uso de recursos de acessibilidade comunicativa para utilizá-los. Um vasto campo de textos legais legitima o direito à inexistência de qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão ou recebimento de mensagens por intermédio dos meios ou sistemas de comunicação, sejam ou não de massa. Objetivo: Valorizar a acessibilidade comunicativa para pessoas com deficiência, destacando a existência de textos legais que regulamentam as formas pelas quais os recursos de acessibilidade comunicativa podem se materializar. Método: Identificação dos textos legais que garantem a existência de recursos de acessibilidade comunicativa para pessoas com deficiência, através de pesquisas jurídicas. Ao final desta etapa, foi diagnosticado o público a quem estes recursos se destinam e analisados suas modalidades, regulamentação, prazos e responsabilidades para cumprimento. Resultado: Foram identificados os seguintes textos legais: a) Lei n° 10. 098, de 19 de dezembro de 2000, que define acessibilidade comunicativa; b) Decreto n° 5.269, de 02 de dezembro de 2004, que estabelece as ações; c) Norma Brasileira ABNT NBR 15290, de 31 de outubro de 2005, que tipifica e regulamenta os recursos; d) Portaria n° 310 do Ministério das Comunicações, de 27 de junho de 2006, que estabelece prazos e responsabilidades. Conclusão: A falta de acessibilidade comunicativa, sobretudo nos canais de comunicação, não se deve, na realidade, a ausência de previsão legal. Ao contrário, o que falta é a execução do que já está posto no Direito. Para tanto, é de suma importância que os atores sociais envolvidos com o segmento das pessoas com deficiência assumam uma postura mais firme, com vistas ao cumprimento por parte dos detentores de concessão pública de serviços radiodifusão de sons e imagens.


COMO CITAR ESTE MATERIAL:


NOVAES, Edmarcius Carvalho. Aspectos Legais da Acessibilidade Comunicativa para pessoas com deficiência. 
Caderno de resumos do 1º Seminário de Pesquisa em Arte, Design e Comunicação, 29 e 30 de novembro de 2010 / projeto e coordenação geral: Rosilene Conceição Maciel.  – Governador Valadares : Ed. Univale, 2010. 45 p. Disponível em: <http://www.univale.br/central_arquivos/arquivos/caderno_sadc.pdf>

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

REFLEXÕES LINGUÍSTICAS E JURÍDICAS SOBRE A ÁUDIO-DESCRIÇÃO


Segundo a AENOR – Asociación Españhola de Normalización y Certificación (2005), a Áudio-Descrição pode ser definida como “serviço de apoio a comunicação que consiste no conjunto de técnicas e habilidades aplicadas, com o objetivo de compensar a carência da capitação da parte visual contida em qualquer tipo de mensagem, fornecendo uma informação sonora adequada que a traduza ou explique, de maneira que o possível receptor com capacidade visual diminuída perceba tal mensagem como um todo harmônico e da forma mais parecida o possível de como seria para uma pessoa que enxerga a compreenderia”.

Considerando a intensa quantidade de imagens que permeia os diferentes tipos de territórios, sejam físicos como os livros, ou mesmo virtuais, em suportes textuais como blogs, a análise da AD: Áudio-Descrição pode se dar em algumas perspectivas, sobretudo, lingüística e juridicamente.

Linguisticamente, a discussão sobre a Áudio-Descrição tem caminhado para que seja compreendida enquanto gênero textual. Tal entendimento se dá em razão do fenômeno lingüístico que a compreende enquanto conteúdo e função social. Portanto, como uma técnica de tradução e um recurso assistivo em resposta ao respeito de direitos de pessoas com deficiência visual. É vista como uma necessidade sociocomunicativa, uma forma textual específica, porém não estanque, que se situa num propósito comunicativo que visa construir uma sociedade inclusivista.

Assim, enquanto sua tipologia textual apresenta um formato próprio, com o uso de adjetivos, verbos no presente do indicativo, em voz ativa, sem expressão da impressão do áudio-descritor sobre sentimentos das personagens envolvidas, sua característica de gênero se constrói quando da sua realização pelo áudio-descritor, pois determina uma necessidade sociocomunicativa em contextos diversos como o da cultura, educação e lazer, visando à acessibilidade comunicativa de pessoas cegas ou com baixa visão nestes territórios.

A Áudio-Descrição difere-se do texto descritivo, uma vez que aquele pressupõe objetividade, ética, omissão de impressões pessoais e habilidades lingüísticas na realização de se descrever o que se vê. Já este é permeado de subjetividade enunciativa, resultante de um ato de escolha que resulta na explicitação de certos aspectos daquilo que se descreve.

É, segundo LIMA (2010), compreendida por “uma narração adicional que comunica vestimentas, linguagem corporal, e piadas visuais numa apresentação visual”, ou seja, é uma descrição objetiva que ajuda ouvintes a entender importantes elementos visuais.

Podem ser classificadas enquanto modalidades, dependendo da existência ou não de um roteiro, em:
a) AD pré-gravada, comumente usada em filmes de DVD;
b) AD ao vivo, em teatro e dança;
c) AD simultânea, em produto audiovisual que não preparação prévia, como telejornais.

Juridicamente, a Áudio-Descrição é um serviço ou tecnologia assistiva, uma modalidade de tradução áudio-visual, garantida pelo direito constitucional que equiparação de oportunidades e inclusão das pessoas com deficiência, no caso, cegas ou com baixa visão. A Lei Federal n° 10.098 de 19 de dezembro de 2000, ao estabelecer normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, apresenta como uma das categorias de barreiras à acessibilidade, as barreiras comunicativas, compreendida como qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio dos meios ou sistemas de comunicação, sejam ou não de massa”. (Art. 2°, II, d).

Já o Decreto Legislativo n° 186, de 09 de julho de 2008, que aprova o texto da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova Iorque, em 30 de março de 2007, reconhece o direito à acessibilidade à informações, comunicações e outros serviços, inclusive serviços eletrônicos e serviços de emergência. (Art. 9°, 1. b).

Outra regulamentação a respeito de Acessibilidade Comunicativa é a ABNT NBR 15290, de 31 de outubro de 2005, que dispõe sobre a Acessibilidade em comunicação na televisão, elaborada pelo Comitê Brasileiro de Acessibilidade (ABNT/CB-40). Por fim, regulamentando a acessibilidade comunicativa televisiva, o Ministério das Comunicações, em 27 de junho de 2008, expediu a Portaria n° 310, que aprova a Norma Complementar n° 01/2006: Recursos de acessibilidade, para pessoas com deficiência, na programação veiculada nos serviços de radiodifusão de sons e imagens e de retransmissão de televisão.

Assim, pode-se concluir que a Áudio-Descrição é um gênero textual, com diretrizes técnicas para sua produção, com fundamento na filosofia inclusivista, alicerçado juridicamente no direito à informação, por meio de tecnologia assistiva que visa a acessibilidade comunicativa, tornando acessível o conteúdo imagético que compõe os diversos contextos sociais.

Nas palavras de LIMA (2009), “trata-se de uma descrição regrada, adequada, a construir entendimento, onde antes não existia, ou era impreciso; uma descrição plena de sentidos e que mantém os atributos de ambos os elementos, do áudio e da descrição, com qualidade e independência (...), a ponte entre a imagem não vista e a imagem construída na mente de quem ouve a descrição”.


BIBLIOGRAFIA:

AENOR – Asociación Española de Normalización y Certificación. UNE – Norma Española. Audescripción para personas com discapacidad visual – requisitos para La audiodescripción y elaboración de audioguías. Madrid-España. AENOR, 2005.

Fabiana Tavares dos Santos Silva; Viviane de Bona; Andreza da Nóbrega Arruda Silva; Isis Carvalho; Elisangela Viana da Silva. Reflexões sobre o Pilar da Áudio-Descrição: "Descreva o que você vê". Revista Brasileira de Tradução Visual. Disponível em:
HTTP://www.rbtv.associadosdainclusao.com.br/index.php/.

LIMA, F.J.; VIEIRA, P. A. M. O Traço de União da Áudio-descrição: Versos e controvérsias. Vol. 1. Revista Brasileira de Tradução Visual (RBTV) 2009. Disponível em HTTP://www.rbtv.associadosdainclusao.com.br/index.php/.


NOVAES, Edmarcius Carvalho. Aspectos Legais da Acessibilidade Comunicativa para pessoas com deficiência. In: I Seminário de Pesquisa em Artes Design e Comunicação 2010. Caderno de Resumos: Arte, Design e Comunicação na contemporaneidade, Editora UNIVALE. Governador Valadares, 2010.


COMO CITAR ESTE ARTIGO:

NOVAES, Edmarcius Carvalho. EFLEXÕES LINGUÍSTICAS E JURÍDICAS SOBRE A ÁUDIO-DESCRIÇÃO. Disponível em www.edmarciuscarvalho.blogspot.com em 29 de dezembro de 2010.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

QUE PELA SUA GRAÇA



SENHOR,

Que pela sua GRAÇA,
Eu tenha tempo para aprender, sem sofrer.


Que pela sua GRAÇA,
Eu tenha a oportunidade de valorizar, sem sentir a dor.


Que pela sua GRAÇA,
Eu tenha crescimento enquanto sua criatura, sem desfalecer.


Que pela sua GRAÇA,
Eu tenha consciência de que não há nada melhor que seu amor.


Que pela sua GRAÇA,
Eu tenha nítida experimentação do seu perdão.


Que pela sua GRAÇA,
Eu tenha a libertação da vida de pecados.


Que pela sua GRAÇA,
Eu tenha novos caminhos firmes para seguir, mas conscientemente.


Que pela sua GRAÇA,
Eu tenha em meus lábios agradecimentos contínuos para Ti.


Que pela sua GRAÇA,
Eu tenha em mim o engrandecimento de Seu Nome.


Que pela sua GRAÇA,
Eu tenha uma nova vida guiada de acordo com Sua vontade.


Que pela sua GRAÇA,
Eu tenha vitória conquistada sobre o vale da morte.


Que pela sua GRAÇA,
Eu tenha vida, vivida sempre graciosamente.

Clamo Senhor,
Que pela sua GRAÇA,
Faça-me reviver.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

HEIN?? POR MARTHA MEDEIROS

 

Crônica polêmica escrita por Martha Medeiros, no Jornal Zero Hora de 10 de julho de 2010.

“Quando meu pai ouve uma asneira muito grande, mas muito grande, ele costuma dizer: “É preferível ouvir isso do que ser surdo“, relativizando a ignorância alheia: há coisas piores na vida.

A surdez nunca me comoveu profundamente. Sempre imaginei que a deficiência auditiva seria a mais tolerável, mesmo sabendo que esse ranking é um disparate, não existe a melhor e a pior deficiência, ainda que, em segredo, todos já tenham pensado um dia: entre ser cego ou surdo, surdo toda vida.

O surdo tem recursos. Aparelhos auditivos, leitura labial, linguagem de sinais. Ele só não socializa se não quiser. E se não quiser, tem o álibi perfeito. “Desculpe, não estou escutando nada“.

Acabei de ler um livro que é o que costumo esperar de um bom livro: inteligente, divertido, humano, terno e bem escrito. Chama-se Surdo Mundo, do talentoso David Lodge, autor inglês. O título é um trocadilho deplorável, como todo trocadilho, mas não se pode querer tudo.

É a história de um professor de linguística aposentado que está perdendo a capacidade de ouvir. Ele, um aficionado pelas palavras, já não as escuta com precisão. Sua mulher está cada dia mais irritadiça por ter que repetir as frases toda hora. Seu velho pai já está meio surdo também, e além disso, caduco, o que torna as conversas entre eles totalmente nonsense. Uma aluna bonitona e sem escrúpulos entra na jogada e torna a confusão ainda maior. Mas essa confusão tem mesmo a ver com a surdez que ele sofre, ou com a surdez que ele deseja?

Estamos nos tornando surdos por gosto. As fofocas propagadas diariamente no local de trabalho, as queixas mil vezes repetidas na sala de jantar, as grosserias disparadas pelas janelas dos carros em meio ao trânsito, as angústias de sempre reprisadas nos divãs, as confissões íntimas que acabam por se banalizar: quem está a fim de ouvir quem hoje?”

Não por acaso, a personagem maluquete do livro está fazendo uma pesquisa sobre bilhetes de suicidas, pessoas que chegam ao extremo de se matar, por quê? Simplificando o que não é simples, poderíamos dizer que elas não estão sendo escutadas com a paciência e devoção que precisam. Um dia cansam de falar sozinhas.

Estamos todos muito barulhentos, virulentos, verborrágicos, ansiosos. Há muita comunicação, mas pouco conteúdo. A surdez pode ser uma deficiência física, mas pode também ser uma deficiência provocada, voluntária: cansei, não quero escutar mais nada.”.



QUERO SUA OPINIÃO:

MARTHA MEDEIROS foi feliz ou infeliz nessa crônica?

Comenta aí em baixo. Em breve, posto minha opinião!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA PROFISSÃO MESTRE

Comentei na penúltima postagem que foi publicado no mês de novembro um artigo que produzi sobre Educação de Surdos, na Revista Profissão Mestre. A Revista Profissão Mestre é uma produção mensal considerada como referência no segmento educacional, no mercado há 12 anos. Possui em seu Conselho Editoral grandes nomes da educação brasileira: Celso Antunes, Cristovam Buarque, Gabriel Chalita, Hamilton Werneck e Tania Zagury.

Quero contribuir para a divulgação deste material disponibilizando aqui este artigo. Na oportunidade quero agradecer à Editora Chefe da Revista, a jornalista Mariana Branco, pelo convite e parabenizá-la pelo trabalho desenvolvido. Se você ainda não conhece a publicação, acesse
www.profissaomestre.com.br e confira. Vale a pena! Uma ótima dica para educadores e educadoras.

Espero que vocês internautas gostem do artigo e deixem seus comentários a respeito. Amplexos!

EDUCAÇÃO DE SURDOS:
SOCIEDADE NECESSITA REPENSAR CONCEITOS E PRÁTICAS INCLUSIVAS DESSES ESTUDANTES NA ESCOLA REGULAR


A sociedade brasileira se despertou nas últimas décadas para os direitos de quarta geração, mais conhecidos como direitos das minorias, ou seja, das pessoas idosas, negras, homoafetivas e com deficiência, com destaque para as pessoas surdas e/ou deficientes auditivas.

Cabe, neste contexto, a análise de duas temáticas muito em voga. A primeira é sobre a melhor terminologia a ser utilizada para se referir a esse segmento. A outra diz respeito sobre o processo de inclusão de pessoas surdas em escolares regulares, numa perspectiva legal, porém também pragmática.


O termo “surdo-mudo” é totalmente incorreto. Os surdos que não emitem sons não possuem, necessariamente, nenhuma deficiência em relação à voz e aos instrumentos necessários para tal. A não utilização de sons se dá porque não ouvem. O surdo, quando oralizado, pode se comunicar por meio da fala, o que demandará acompanhamento fonoaudiológico prolongado. A “pessoa surda” – termo correto – que não é oralizada comunica-se, em regra, somente por meio da Língua Brasileira de Sinais (Libras) que, por ser uma língua visual-motora, não faz uso, portanto, de sons. Já a “pessoa com deficiência auditiva” é aquela que não tem surdez profunda, sua limitação sensorial é parcial, e que, em razão disso, sua identidade se dá como ouvinte, fazendo uso, portanto, de uma língua oralizada.

Em relação ao processo educacional, percebe-se a existência de dois posicionamentos nítidos: a integração (popularmente conhecida como inclusão) e a individualização (que reconhece a diferença linguística existente).

A legislação brasileira vem trabalhando a inclusão dessas pessoas em escolares regulares, com a justificativa na necessidade da socialização com o diferente. Nesse contexto, o papel da escola é de socializar, defrontar num mesmo território uma gama de diferenças, na perspectiva de trocas de experiências, e não essencialmente o processo de aprendizagem comum que a pessoa, no caso, surda, tem direito.

A crítica é que esse processo de inclusão de pessoas com deficiência é feita de maneira uniforme, não levando em consideração as especificidades de cada grupo. Há a rejeição do reconhecimento de uma diferença linguística e de formação em razão da língua, de uma identidade própria, específica da comunidade surda. A criança surda, quando colocada num território de escola regular, não consegue vivenciar de verdade a real interação, nem pode tomar decisões, pois ela é vista como exceção por seus colegas ouvintes.

Já a individualização, pelo contrário, entende que o processo educacional que reconhece a diferenciação linguística da pessoa surda em detrimento de todos os demais componentes do segmento com deficiência, que fazem uso da língua pátria, desenvolve-se na perspectiva de um processo educacional específico, que visa à aprendizagem e o fortalecimento da aquisição da Língua Brasileira de Sinais como a primeira língua, e da Língua Portuguesa como segunda língua.

Isso justificaria a existência ou permanência das instituições escolares específicas ou classes exclusivas para pessoas surdas. Para defensores desta linha, é muito claro que a realização da socialização também ocorre, uma vez que, neste território, o professor deixa de ser quem manda, e, portanto, há democracia. Há também a participação, por incorporar os pais dos alunos. É cooperativa, por ser um trabalho de todos, e também comunitária, por ser a comunidade dos surdos. É principalmente ativa, porque, ao tomarem decisões, fazem e aprendem, produzindo.

A inclusão de pessoas com deficiência em escolas regulares pode ser feita, desde que possível e, principalmente, desejado por tais pessoas. No entanto, como defende o posicionamento da individualização, esse processo deve ser diferenciado e cuidadoso, respeitando as diferenças específicas de cada deficiência e a possibilidade de aprendizagem de cada aprendiz. O aprendiz surdo só será educado essencialmente se sua língua materna, a Libras, for reconhecida de fato, respeitada e valorizada. Trata-se de uma diferenciação sociolinguística e não meramente física.

Edmarcius Carvalho Novaes, autor do livro SURDOS: Educação, Direito e Cidadania (WAK Editora) e gerente da Coordenadoria de Apoio e Assistência à Pessoa com Deficiência da Secretaria Municipal de Assistência Social da Prefeitura Municipal de Governador Valadares (MG). E-mail: edmarcius@hotmail.com


Como citar este artigo:

NOVAES, Edmarcius Carvalho. Educação de Surdos: Sociedade necessita repensar conceitos e práticas inclusivas desses estudantes na escola regulares. Revista Profissão Mestre, Ano 12, n°134, p. 13, 2010.

sábado, 4 de dezembro de 2010

NÃO QUERO TE TOLERAR


Tolerar. Esse é o verbo. Saramago disse que “tolerar a existência do outro e permitir que ele seja diferente ainda é muito pouco. Quando se tolera, apenas se concede, e essa não é uma relação de igualdade, mas de superioridade de um sobre o outro”.

Sabe, ele tem razão!

Quantas vezes não temos que tolerar o outro. Suas histórias, seu modo de falar, seu comportamento, suas escolhas e decisões. A tolerância é a eliminação da paridade. Não há troca na tolerância. É uma definição de posicionamentos. No momento em que me predisponho a tolerar o outro, para este quero demonstrar que o aceito como é, porém, para mim, mesmo que de forma inconsciente, quero ter a comprovação da minha superioridade, porque mesmo o outro sendo o que se apresenta, posso vê-lo como inferior a mim, e em razão disto, o aceito.

O ideal seria que não houvesse tolerância, e sim, consciência de igualdade. Afinal, no contar dos ovos, somos todos iguais. Cada um com suas diferenças, porém, no que se refere à análises mais abstratas, somos todos iguais.

Todos têm desejos de ser feliz. Todos têm defeitos e limitações. Todos são felizes em alguns aspectos e infelizes, no mínimo, em um outro aspecto. Todos têm seus pecados-capital.

Se as pessoas tivessem consciência de suas igualdades com o próximo com quem se encontram, muita coisa seria diferente. As pessoas tratariam melhor o próximo. Haveria a preocupação de fato - e não mero discurso - de realizar um exercício de alteridade. Se colocar no lugar do outro para receber o tratamento que lhe é dado seria prática comum!

A partir disto, as amizades seriam verdadeiras e não meras conveniências, onde estas - as amizades - resistem até quando há a busca pelo o que se deseja, e depois disto, resta-se a solidão sentida porque foi deixava para trás a história construída, os momentos vividos e os sentimentos aflorados.

Mas infelizmente as pessoas são muitos egoístas. Vivem para realizar seus desejos, quase sempre momentâneos. Visam o que lhes importam. E nessa lógica, o outro é um mero objeto. E como tal, descartável por falta de utilização ou por não se desejá-lo mais.


Fico pensando nas pessoas que já passaram pela minha vida. Inúmeras.

Umas poucas foram sinceras: gostavam de mim – talvez ainda nutram alguma espécie positiva de sentimento a meu respeito – porém não me iludiram prometendo os céus. Destas, tenho uma saudade positiva. A sinceridade foi o melhor de tudo.

Outras vieram estampadas no rosto seu propósito de serem momentâneas, e eu – com o egoísmo que também tenho – soube, quando me foi conveniente, aproveitar os sentimentos momentâneos destas pessoas.

Agora, outras tantas me fizeram sofrer, porque com o tempo pude perceber que houve um tipo qualquer de tolerância para comigo, pois enquanto fui útil de alguma forma, me declararam amizade eterna, amor infinito e gozo constante. Com o tempo, com a alteridade nunca desenvolvida em relação a mim, pude perceber que a prática da tolerância foi descartada – em alguns casos por não obterem seus objetivos comigo e outras por terem tido êxitos, eliminando-me a posterior.

Pensando nesse binômio ‘tolerância’ versus ‘o outro’ começo a me indagar: Será que por muito tempo não tenho sido tolerante demais me deixando ser mero outro para as pessoas, e aceitando que estas se aproximem de mim, com mil possíveis finalidades, e ferindo-me, passivamente, para após terem obtido êxito, me abandonar? Por que algumas promessas de amizades eternas, de amores infinitos não foram cumpridas?

Também pode ser que seja o contrário: ter que me tolerar pode ser um exercício árduo. Tenho consciência de que sou diferente do que habitualmente se encontra por aí. Não estou com isso fazendo juízo de valor, até porque na igualdade de todos os seres humanos está a diferença de gostos e pode ser que, mesmo que eu não tenha consciência disso, muitas pessoas gostem de mim.

Entretanto, sei também dos meus defeitos, como confiar e amar de forma excessiva nas pessoas que gosto, quando estas cruzam o meu caminho. Será que essa atitude excessiva pode se tornar um fardo para estas pessoas? Se for, isto justifica minhas decepções. Na arte de tolerar, talvez se afastar de mim seja a forma de me dizer que preciso aprender a confiar e amar menos no outro, e de dizer a si próprias que são superiores a este ser (no caso, eu), por não acreditarem e se entregarem ao amor e a confiança que lhe ofereço, tanto quanto eu, reciprocidamente!

Na verdade, na verdade, o que desejo é que as pessoas sejam sinceras comigo. Não quero que me tolerem. Espero das pessoas com as quais eu convivo que me amem ou me odeiem, se assim preferirem. Ninguém é obrigado a me amar, muito menos a me tolerar. Respeitar sendo sinceras e não tolerantes comigo, já está de bom tamanho.

Quanto ao meu amor e confiança dispensada aos outros com os quais encontro, confesso que preciso trabalhar isto melhor. Talvez assim eu sofra menos, porque, infelizmente, e de forma geral, a prática de me tolerar é exercida pela maior parte das pessoas do que a de se colocarem numa posição de igualdade. Caso fosse esta, as coisas seriam diferentes, porque quando somos iguais a sinceridade existe, e com ela, as reais intenções nos relacionamentos a serem estabelecidos são destacadas, o amor e a confiança são fins desejados e não meios utilizados para se obter o que desejam.

Não quero mais ter que tolerar ninguém. Que na minha sinceridade, nos meus próximos relacionamentos, a prática da consciência da igualdade, por meio da alteridade, me leve a amar e confiar nas pessoas, porque saberei que estas também nutrem o mesmo para comigo e não uma mera tolerância.

Não nos toleremos mais. Amemo-nos, de fato, uns aos outros! Ou então, sejamos, no mínimo, sinceros.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

VEM CHEGANDO O FIM

Vem chegando o final do ano e é hora de começar a contabilizar nossas ações e atividades durante o ano findado. E em 2010, em especial, foram muitas. No ano em que ocorreu a Copa do Mundo com a derrota da Seleção Brasileira, e as eleições, com o resultado histórico com a vitória da primeira presidente do Brasil, tive particularmente o ano mais agitado da minha vida.

No campo dos estudos comecei duas pós graduações: uma em Direito Público e outra em Língua Brasileira de Sinais e um MBA em Administração Pública e Gestão de Cidades, que só irei encerrá-los no meio de 2011. A intenção é após concluí-los, partir para o mestrado.

Além disto participei de três cursos de extensão: um em Politicas Públicas, Elaboração, Monitoreamento e Avaliação de Projetos Sociais pela UNIVALE; outro em Aspectos Gerais da Dependência Química pela Secretaria Municipal de Assistência Social; e por fim, outro sobre Aperfeiçoamento dos Gestores do SUAS pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social do Governo de Minas Gerais.

Na área da publicação, meu livro
SURDOS: EDUCAÇÃO, DIREITO E CIDADANIA pela WAK Editora, finalmente saiu do forno, hoje disponível para compra no link acima. Em anais de congressos publiquei dois artigos no VI Seminário Internacional Sociedade Inclusiva da PUC Minas: o primeiro sobre a "A Ação Afirmativa como Instrumento de Justiça Social para efetivação do Direito ao Trabalho para Pessoas com Deficiência na Administração Pública", e outro sobre "Relatório de Pesquisa sobre o Programa de Transporte Coletivo Público Gratuito para Pessoas com Deficiencia, em Governador Valadares, no ano de 2009." no VI Seminário Internacional Sociedade Inclusiva da PUC Minas.

Nos dias 29 e 30 de novembro participei do I Seminário de Pesquisa em Artes Design e Comunicação da UNIVALE, apresentando o trabalho, na modalidade de pôster sobre "Aspectos Legais da Acessibilidade Comunicativa para pessoas com deficiência". A ação surgiu após escrever uma postagem neste blog sobre o assunto.

Foi publicado na internet também um artigo que escrevi em 2008 para a edição anterior do mesmo evento. Na época pesquisei sobre o
"Direito à Saúde: O Etnocentrismo Clínico em relação à Saúde Surda".

Ainda foi publicado um artigo na edição de novembro da Revista Profissão Mestre - revista nacionalmente conceituadíssima, no segmento educacional - com o título: "EDUCAÇÃO DE SURDOS: Sociedade necessita repensar conceitos e práticas inclusivas desses estudantes na escola regular". Em breve vou publicar aqui algo especificamente a respeito.

Já no trabalho este ano foi gratificante. Muitas atividades, porém todas satisfatórias. Pude contribuir mais um ano na gerência da Coordenadoria de Apoio e Assistência à Pessoa com Deficiência - CAAD, orgão público municipal vinculado à Secretaria Municipal de Assistência Social de Governador Valadares, responsável pela articulação das políticas públicas para as pessoas com deficiência, que hoje operacionaliza quatro ações:

a) concessão do benefício social PASSE LIVRE no transporte coletivo municipal;
b) encaminhamento para o mercado de trabalho;
c) recebimento de denúncias de maus tratos e violação de direitos e encaminhamento para os órgãos do SUAS; e
d) ações de conscientização de direitos para pessoas com deficiência e sociedade civil, que neste ano se deu através de duas edições do Seminário Deficiência em Debate.

Uma das ações importantes realizadas neste ano foi o levantamento sobre o perfil social das pessoas com deficiência de Governador Valadares usuárias do maior benefício social concedido pela Política Municipal de Assistência Social, que originou o trabalho
"Relatório de Pesquisa sobre o Programa de Transporte Coletivo Público Gratuito para Pessoas com Deficiencia, em Governador Valadares, no ano de 2009 publicado no evento da PUC Minas. É a primeira pesquisa científica feita a respeito no município de forma oficial.

Ainda no vínculo com a SMAS pude contribuir neste ano com o Conselho Municipal de Assistência Social - CMAS, com o Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência - CMPD e com o Conselho Municipal de Transito e Transporte - CMTT.

No primeiro a oportunidade de fortalecer o conhecimento a respeito da Política do Sistema Único de Assistência Social - SUAS e os espaços de controle social através de representantes do governo e da sociedade civil, que de forma paritária fiscalizam as políticas de assistência social e indicam caminhos para a Administração, bem como tive a oportunidade de contribuir com a Comissão de Legislação que faço parte. No segundo - CMPD - a oportunidade de começar a desenvolver as ações sob a responsabilidade do Conselho, após estruturá-lo no ano de 2009, Já no terceiro - CMTT, apesar de poucas reuniões ocorridas, pude compreender como é elaborado o Plano Diretor do Município de Governador Valadares que encontra-se em fase de aprovação legislativa.

E por fim, após três anos longe da docência, pude neste segundo semestre participar de um projeto de capacitação profissional de atendimento ao público, lecionando a disciplina de "Comunicação em Língua Brasileira de Sinais", para uma seleta e especial turma dos Correios, por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial de Governador Valadares. Experiência enriquecedora em todos os aspectos, sobretudo na oportunidade de continuar estudando e aprendendo Libras na prática de contribuir na formação das pessoas por meio do ensino.

2010 também contabiliza bons momentos, com boas viagens à Diamantina, Vila Velha e Belo Horizonte, onde pude rever pessoas queridas, conhecer outras novas e também pude me despedir da minha tia com que morei em 2008 que veio a faleceu.

Quero encerrar esta postagem com a publicação do levantamento de acessos a este meu blog. Neste ano ele tomou uma conotação mais profissional, acadêmica. Tenho meio que utilizado-o como instrumento de registro de minhas produções e de contribuição na divulgação do modesto conhecimento adquirido, por entender que socializando informações todos aprendem. Talvez isto justifique o acesso de internautas de várias partes do mundo, o que sinceramente não esperava. Aliás, peço, sobretudo aos internautas de outros países que acessarem meu blog e que gostarem do que lêem aqui, se possível, que me envie e-mail (
edmarcius@hotmail.com) ou deixe seus comentários nas postagens que acessarem e acharem interessantes.

A plataforma do blog disponibilizou nos últimos seis meses o serviço de Estatísticas, sobretudo do número de acessos por mês, os países de onde esses acessos surgiram, e o ranking das postagens mais acessadas. Vamos aos resultados:




ACESSOS SEMESTRAIS
Período: 01 de Maio a 30 de Novembro de 2010
Total de acessos: 2.570


01) Estatística por Público



Ranking por países:

BRASIL - 87,9%
EUA - 6,6%
PORTUGAL - 3,7%
HOLANDA - 0,5%
RUSSIA - 0,3%
CINGAPURA - 0,3%
CANADÁ - 0,2%
ESLOVÊNIA - 0,2%
CHINA - 0,1%
MOÇAMBIQUE - 0,1%

Os números exatados de acessos em cada país estão disponíveis na figura acima.

02) Estatística por postagens:

Pelo que pude concluir do ranking de acessos por postagens é que o tema da surdez predomina nos acessos ao blog. A temática da pessoa surda, da profissão de Tradutor-Intérprete e dos instrumentos legais e educacionais para as pessoas com deficiência formam a primeira referência do blog. O segundo tema é a questão da sexualidade, sobretudo acerca da abordagem filosófica - Foucault - e a análise da homossexualidade, feita neste blog, a partir da análise de um estudo sobre a percepção da sociedade brasileira sobre Cidadania, Direitos Humanos e Homossexualidade.

Então é isso. Acho que ainda voltarei por aqui antes de começar 2011. Mas se isso não ocorrer é porque o ano de 2010 ainda não acabou e os preparativos para as minhas tão merecidas férias estão começando, de fato. Agradeço a todos que passaram por aqui. Que 2011 também seja um ano produtivo para mim e para todos, com a graça de Deus!