sábado, 31 de agosto de 2013

FILOSOFIA DA LINGUAGEM V - WITTGENSTEIN E OS LIMITES DA LINGUAGEM



Wittgenstein se interessou pela Filosofia da Linguagem pelas obras de Russell e Frege. Foi aluno de Russell, e escreveu seu único livro em vida, o “Tractatus”. Além da critica de Russell e Frege, aponta a ideia de que a língua é uma figuração do mundo. Ele diz que o mundo não é feito de objetos, e sim de estados de coisas, de fato. No caso, tudo que ocorre, não só de objeto, mas do que liga os objetos, e constitui o estado de coisas. É possível representar, figurar, o mundo de certa maneira. Se como é feito no pensamento e exprimido na linguagem e essa figuração corresponde às coisas estão na realidade, essa figuração é verdadeira, se não é falsa. É possível figurar estados de coisas, como os objetos estão relacionados, não se podendo descrevê-los, mas somente nomeá-los e pode-se fazer isso em diversas linguagens: anotação musical, a física, matemática. A lógica organiza essas representações, mas não é possível demonstrar como a linguagem figura o mundo, porque pra isso usaria a própria linguagem.

Há um problema aqui. Será que é possível mostrar como as coisas estão no mundo? Sim, usando uma linguagem qualquer. Será possível mostrar qual é a relação que a linguagem estabelece com o mundo usando outra linguagem? Não é porque a linguagem significa, representa, demonstra o mundo pela sua forma, assim como as coisas na realidade, a linguagem representa os signos individuais, assim como os objetos estão no mundo. Se eu usar outra linguagem tenho que usar a mesma forma lógica que espelha a forma como as coisas estão no mundo. Outra linguagem teria uma mesma forma, e todas as linguagens podem ser reduzidas a uma mesma forma logica, e por isso não é possível mostrar, representar, figurar, só mostrar, mas não dizer. Essa diferença entre dizer e mostrar como a linguagem significa o mundo está na base de uma ontologia do Tractatus, sendo diferente das propostas dos outros autores, mas tem algo em comum a ideia da forma como possibilidade da estrutura, a forma da linguagem, do objeto, do mundo que possibilita a estruturação significativa.




PREFÁCIO:

“Talvez este livro somente seja compreendido por quem já tenha cogitado por si próprio os pensamentos aqui expressos, ou ao menos cogitado pensamentos semelhantes. Não é, pois, um manual. Terá alcançado seu objetivo se agradar a quem o ler com atenção. Trata de problemas filosóficos e mostra, creio eu, que o questionar desses problemas repousa na má compreensão da lógica de nossa linguagem. Poder-se-ia apanhar todo o sentido do livro com estas palavras: em geral o que pode ser dito, o pode ser claramente, mas o que não se pode falar deve-se calar. Pretende, portanto, estabelecer um limite ao pensar, ou melhor, não ao pensar, mas à expressão do pensamento, porquanto para traçar um limite ao pensar deveríamos poder pensar ambos os lados desse limite (de sorte que deveríamos pensar o que não pode ser pensado). O limite será, pois, traçado unicamente no interior da linguagem; tudo o que fica além dele será simplesmente contra-senso.” 

[L. Wittgenstein, prefácio ao Tractatus Logico-Philosophicus.] 



O filósofo inglês Ludwig Wittgenstein, em sua única obra “Tractatus”, apresenta um discurso sobre o inefável, um discurso que é, por essa razão, sem sentido, apontando claramente um contrassenso, de forma consciente. Por meio de aforismos, o filósofo deseja demonstrar como a linguagem significa o mundo. Para tanto, a linguagem que é analisada, é utilizada, o que faz tal tarefa se tornar impossível, bem como concluir que dizer o mundo não é possível, podendo-se tão só mostrá-lo. 

Por ser o mundo “místico”, não podendo ser descrito pela linguagem, Wittgenstein conclui então que toda a tarefa filosófica de dizer o que mundo recai naquilo que a ciência já o faz, isto é, mostrar o mundo, sendo, desta forma, inútil o fazer da filosofia. Compete à filosofia, como única atividade legitimamente possível para o autor, tão só esclarecer contrassensos das afirmações sobre a vida e o mundo, o que não é o real papel filosófico em sua perspectiva tradicional. Nesse contexto, à filosofia cabe somente se silenciar e agir, mostrando o mundo, não tentando dizer o que não se consegue dizer, e sim tentando mostrar o que há de mais importante de ser mostrado no mundo.

A síntese do livro é a análise das relações de expressão existentes entre a linguagem e o mundo, sendo a partir disto possível analisar os problemas filosóficos tradicionais. Seu objetivo principal passa pelo delineamento dos limites que o pensamento possui. Para tanto, parte de um método que não é a delimitação do domínio do verdadeiro, como pensava Frege, nem os limites das proposições que tem sentido, como pensava Russell, mas sim apontar os limites do interior dos quais a linguagem adquire sentido, bem como apreender a definição de uma proposição, do que seja o pensamento, que é expresso numa proposição e qual o mundo que é representado por ela.

A partir de aforismos, o filosófico inglês aponta que “o mundo é a totalidade daquilo que efetivamente acontece, dos casos reais, dos fatos”. Já os estados de coisas são explicados a partir da noção de objeto, que são simples, ou seja, “são o que há de mais elementar nos fatos e configuram a substância do mundo”. (RODRIGUES, 2013, p. 68-69). 

A ideia principal do livro é que os elementos da proposição são articulados de forma lógica, por meio dos elementos do fato figurado (uma figuração é uma imagem, que por sua forma, tem uma forma possível de articulação entre os objetos, apontando para uma situação possível, que pode ou não existir de fato, na realidade, no espaço lógico das possibilidades). Isso significa que há uma semelhança entre as relações dos signos e as relações entre os objetos (substancia do mundo, que em si é fixa e invariável, e que pode se configurar com os objetos que se relaciona de diversas formas). Nesse sentido, compete à lógica definir toda e qualquer possibilidade de representação da realidade, por qualquer meio específico de simbolismo.

O mundo e o pensamento mutuamente se espalham, já que são lógicos. A linguagem, por sua vez, como espaço onde se emprega a lógica em proposições singulares, espelha e delimita toda a possibilidade de pensamento, ou seja, de toda a realidade, sendo essa a primeira delimitação do pensamento: o mundo só pode ser figurado pela linguagem na forma lógica, na forma de figuração (na linguagem ou no pensamento), onde seus elementos estão articulados. Isso significa que os pensamentos e as proposições são figurações do mundo, já que uma coisa só pode ser possível, ser pensável, se poder ser expressa por alguma linguagem, ser figurada de alguma forma lógica. Uma preposição que tenha sentido é aquela que tem uma forma lógica, ou seja, que aponte “sua concordância e discordância com as possibilidades de existência e inexistência de estados de coisas” (WITTGENSTEIN, 1993).

A partir disso, o filósofo de Viena conclui que os limites do que seja dizível dão os limites do pensável, sendo os limites do dizível inefáveis, não podendo assim ser ditos, somente mostrados. Por tal razão, a filosofia apresenta-se como “um mau uso, um uso deficiente da linguagem que engendra pseudoproblemas e pseudo-proposições, as quais são desprovidas de forma lógica e não determinam possibilidade alguma”. (RODRIGUES, 2013, p. 75).

O sujeito, portanto, tem a posição de um limite do mundo, na medida em que, de acordo com suas crenças e valores, passa a ver a vida e o mundo. Porém, como existem diferentes crenças e valores, é possível, portanto, descrever o mundo (que é só um) de diferentes maneiras, usando diferentes linguagens. Porém, todas as crenças e valores são indescritíveis, sendo somente possível mostrá-los. 

Assim, pode-se concluir que:

a) Os limites da linguagem e os limites do mundo não igualam a linguagem e mundo. Por meio da linguagem, se dá significado ao mundo, mas a linguagem não é o mundo. Assim, os limites do mundo vêm dos limites da linguagem, e não o mundo que diz ou significa a linguagem. Cabe à linguagem dar significado aos limites do mundo, dando sentido, descrevendo-o. É uma figuração do âmbito de possibilidades, descrevendo os limites da figuração das possibilidades de verdade e falsidade.

b) Os limites da linguagem significam os limites do mundo. A linguagem enquanto própria do sujeito metafisico, fixa os limites do mundo, limitando-o ao próprio sujeito. Assim, “só o sujeito dá sentido ao mundo e o mundo só existe para ele na medida em que pode ser por ele significado”, ou seja, “o mundo, para cada sujeito, está restrito ao que faz sentido dentro da linguagem que cada sujeito domina” (RODRIGUES, 2013, p. 76).

c) Na análise da natureza da lógica, o filósofo estabelece que o que é comum entre a linguagem e a realidade é a forma lógica, a qual não se pode e não se deve falar, ou melhor, não é possível falar, pois para tanto, é preciso usar a linguagem para poder falar sobre ela mesma, utilizando a forma lógica para descrever a si mesma, o que é impossível para os sujeitos, que são partes do mundo de outros sujeitos mutuamente, não sendo possível uma existir metalinguagem para tanto, ou seja, não é possível alguém “se colocar fora de toda e qualquer perspectiva e assumir o ponto de vista superior, divino, fora de linguagem e do mundo”. (RODRIGUES, 2013, p. 77).



REFERENCIAS:

RODRIGUES, Cassiano Terra. Filosofia da Linguagem I: Guia de Estudos. Lavras: UFLA, 2013, p. 68-73. 

WITTGENSTEIN, Ludwig. Tractatus Logico-Philosophicus. Introdução de Bertrand Russell. Tradução, apresentação e ensaio introdutório de Luiz Henrique Lopes dos Santos. São Paulo: EDUSP, 1993.


OBSERVAÇÃO: 

Este texto é um resumo que produzi com o material de aula de disciplina “FILOSOFIA DA LINGUAGEM I” da Graduação em Licenciatura para Filosofia da UFLA – Universidade Federal de Lavras EaD Campus Governador Valadares, produzido em 31/08/2013.


VEJA TAMBÉM:





domingo, 25 de agosto de 2013

FILOSOFIA DA LINGUAGEM IV - A TEORIA DAS DESCRIÇÕES DEFINIDAS DE RUSSELL E O ANTIPSICOLOGISMO DA LÓGICA



Russell foi um dos principais matemáticos, lógicos e filósofos do século XX. Ao estudar a Filosofia da Lógica, da Linguagem, e da Matemática e estudou Frege e descobriu o paradoxo de Frege, que reviu todo seu sistema a partir dessa falha que Russell identificou em suas obras. Estuda-se nessa unidade a crítica que Russell faz à teoria de Frege com sua teoria da denotação, que estabelece a diferença entre sentido e denotação, entre sentido e referencia ou sentido e significado.

Russell fala que Frege estabeleceu essa diferença. O sentido é o pensamento de uma sentença. Acusa-o que essa distinção é artificial, que multiplica os entes, povoa o mundo de muitas entidades que se sabe se existem ou não. No escrito “Da denotação”, propõe a teoria das descrições definidas que permite eliminar a denotação. Frege interpretava expressões como nomes próprios, que se refere á objeto definido, porém nem sempre são nomes próprios e sim descrições (por exemplo, “o pai de Dom Pedro II”). Se substituir o nome próprio e substituir na sentença em que ocorre por uma descrição definida, elimina-se uma referencia.

Russell aproveita de uma concepção de proposição que entende que a sentença tem uma forma lógica e insaturada, e nesse lugar insaturo, pode-se colocar nomes próprios ou expressões indefinidas. Não é um problema da linguagem, mas pra quem quer uma ciência com linguagem exata. É preciso fazer analise logica, substituindo nomes próprios por descrições definidas, para descobrir a forma logica da linguagem e se aquelas expressões confusas se referem a coisas que existem no mundo ou não, se são, assim, verdadeiras ou não. Se não, podem ser descartadas como proposições metafisicas. Há uma questão de ontologia. A analise logica da linguagem, ou para Peirce dos signos, ela revela comprometimentos ontológicos. Tal ideia é trabalhar de uma forma diferente para cada um desses três autores.

 
A TEORIA DAS DESCRIÇÕES DEFINIDAS:


“Um resultado importante da teoria da denotação exposta acima é o seguinte: quando existe qualquer coisa da qual não temos conhecimento de trato imediato, mas somente definição através de expressões denotativas, então as proposições, nas quais essa coisa é introduzida por meio de uma expressão denotativa, não contém realmente essa coisa como um constituinte, mas contém, ao contrário, os constituintes expressos por várias palavras da expressão denotativa. Desta forma, em toda proposição que podemos apreender (isto é, não somente naquelas cuja verdade ou falsidade podemos julgar, mas em todas que podemos pensar), todos os constituintes são realmente entidades das quais temos conhecimento de trato imediato. Ora, coisas tais como a matéria (no sentido em que a matéria ocorre na física) e as mentes de outras pessoas são conhecidas por nós somente através de expressões denotativas, isto é, não temos conhecimento de trato delas, mas as conhecemos como sendo aquilo que tem mais tais ou quais propriedades. Portanto, apesar de podermos formar funções proposicionais C(x), que devem conter tal ou qual partícula material, ou a mente de fulano de tal, ainda assim, não temos conhecimento de trato das proposições que afirmam essas coisas, que sabemos que devem ser verdadeiras, porque não podemos apreender as entidades reais concernidas. O que sabemos é “fulano de tal tem uma mente que possui tais ou quais propriedades”, mas não sabemos que “A tem tais ou quais propriedades”, onde A é a mente em questão. Em tal caso, sabemos as propriedades de uma coisa sem ter conhecimento de trato da coisa em si, e, consequentemente, sem saber qualquer proposição simples, da qual a coisa em si seja um constituinte.” [B. Russell, “Da Denotação”. Em Lógica e Conhecimento. São Paulo: Abril Cultural, 1982, p. 14]





O filósofo britânico Bertrand Russell, em sua obra “Sobre a denotação” (1905), propõe uma exposição acerca da teoria das descrições definidas como contradição à teoria do filósofo Frege que propunha a distinção entre sentido e referência. Para entender a crítica de Russell é preciso, portanto, compreender como a concepção fregeniana entendia o sentido e a referência.

Gottlob Frege, filósofo alemão, com seu projeto da conceitografia enquanto linguagem simbólica logicamente exata, entendia que o sentido de uma sentença é o pensamento que ela exprime. Tal sentido é dado pelo sentido de suas partes, que de forma semântica são relevantes para a lógica. E isso decorre de ser a lógica o estudo que, além de compreender os signos ou sentenças, visa compreender o pensamento, e a partir disto, aferir a possibilidade de sê-lo verdadeiro ou falso.

A referência, por sua vez, na concepção fregeniana diz respeito ao valor de verdade da sentença, ou seja, “é a circunstância de ela ser verdadeira ou falsa”, onde “uma sentença verdadeira refere a um objeto lógico que é o verdadeiro”, e “uma sentença falsa, ao falso” (RODRIGUES, 2013, p. 55). 

Nesse sentido, uma sentença onde não se pode determinar a sua referência (o que ocorre nos casos onde suas partes semânticas relevantes não apontam valores de verdade definidos, ou seja, onde não há objeto ao qual refiram), não desperta interesse ao estudo da lógica, já que não se pode aferir seu valor de verdade ou de falsidade.

Tem-se assim que a distinção fregeniana entre o sentido e a referencia de expressões singulares baseia-se na interpretação das sentenças em termos de funções, e não em relação à ligação entre sujeito e predicado. Sua preocupação é estabelecer a diferença de valor cognitivo por meio de uma compreensão semântica. Se enunciados de identidade distintos (a=a; a=b) apontam para o mesmo objeto, leia-se, referência (ou denotação), ainda assim, eles terão sentidos distintos, porque se diferem no modo de apresentação do objeto.

Por meio de vários exemplos, Russell na obra supracitada, ainda aponta que é possível substituir os modos de apresentação dos enunciados de identidade sem mudar a referencia, o que implica na mudança do sentido de uma operação, sem que isso afete a garantia de sua validade. Isso significa que é possível que sentenças onde ocorram sinais ou nomes, para os quais faltem referências, ainda assim podem ter sentido.

A sentença é como se fosse uma função, tendo duas partes, “uma parte completa em si mesma e a outra insaturada ou carente de complementação” (FREGE, 1980). Isso significa que a sentença é como uma forma vazia, que pode ser preenchida, tendo um valor ou outro de verdade, variando conforme o termo referencial ou denotativo.

A referência, portanto, exige que uma sentença, para ser determinada enquanto verdadeira ou falsa, seja completada por algum objeto, por algum nome próprio, que expresse seu sentido e que se refira ou designe sua referência. Isso aponta para a compreensão de que, se todo conceito exige que seja definido para todos os objetos, logo todo conceito irá dividir os objetos entre aqueles que estão sobre sua conceituação e aqueles que não estão, sem haver outra possibilidade de divisão.

Justamente por não poder haver nenhuma outra possibilidade além da divisão entre verdadeiro ou falso na da classificação das sentenças realizada por Frege (que compreendia que uma sentença podia ter até sentido, mas que não tinha denotação alguma, caso o objeto não exista), Russell apresenta um paradoxo na distinção entre sentido e denotação fregeniana, e aponta em sua obra “Sobre a denotação”, num viés vero-funcional das sentenças, seu instrumento para solucionar a contradição encontrada na teoria fregeniana, a saber, a sua teoria das descrições.

Para analisar as expressões denotativas (aquelas ligadas a referencia), Russell utiliza-se de exemplos para se tentar fazer entendido, não apresentando definições claras em sua obra. Em seus exemplos, faz uso de quantificadores existencial e universal para tratar das expressões denotativas, já que estas funcionam para quantificar os termos, não apontando para descrições definidas, objetos específicos.

É justamente na análise da função da quantificação das expressões denotativas que Russell encontra o ápice de sua crítica à semântica de Frege, ao utilizar-se do principio do contexto do próprio Frege para tanto. Por este princípio, as expressões não podem receber valores de verdade isoladamente, ou seja, é preciso que estejam inseridas num contexto sentencial, já que tais “expressões denotativas são significativas somente quando inseridas na expressão de uma proposição significativa.” (RODRIGUES, 2013, p. 57). Portanto, o que para Frege eram expressões preenchidas com nomes próprios, na concepção russeliana não passam de expressões que são incompletas.

Rodrigues (2013, p. 57) aponta ainda que para Russell as proposições podem classificadas ser simples (compostas de objetos, propriedades e relações) ou complexas (são como fórmulas da lógica forma, possuindo conectivos, quantificadores e variáveis). Já as sentenças apresentam o mesmo significado se exprimirem a mesma proposição, sendo bem-formadas quando isso ocorre. Frege, por sua vez, entendia ao analisar a sentença, que a forma gramatical não pode corresponder à forma lógica da proposição. Russell, então, analisa as sentenças denotativas com esses quantificadores e aponta que ao se substituir expressões denotativas por descrições logicamente definidas, onde as variáveis são quantificadas, há a eliminação da vagueza, eliminando também denotações fictícias, podendo fazê-las confundidas com a realidade, já que com a eliminação da sentença, eliminam-se todas as denotações.


Com essa análise de sentenças quantificadoras, Russell passa a dar significado para cada sentença legítima que contenha expressão denotativa. Nesse processo de descrições definidas propostas, os símbolos são eliminados por atribuí-los denotações inexistentes na realidade, e, portanto, não tendo significância. Assim, as classes são funções proposicionais, onde se pode falar acerca dos valores da variável segundo a qual a função seja verdadeira.


REFERENCIAS:


FREGE, Gottlob. Os Fundamentos da Aritmética. Tradução de Luis Henrique dos Santos. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

RODRIGUES, Cassiano Terra. Filosofia da Linguagem I: Guia de Estudos. Lavras: UFLA, 2013, p. 54-63.

RUSSELL, Bertrand. Ensaios Escolhidos. Seleção de textos de Hugh Mattew Lacey; tradução de Pablo Rubén Mariconda. São Paulo: Abril Cultural, 1978.


OBSERVAÇÃO:

Este texto é um resumo que produzi com o material de aula de disciplina “FILOSOFIA DA LINGUAGEM I” da Graduação em Licenciatura para Filosofia da UFLA – Universidade Federal de Lavras EaD Campus Governador Valadares, produzido em 25/08/2013.


VEJA TAMBÉM:

01) Filosofia da Linguagem I - O antipsicologismo da Lógica em Kant e John Stuart Mill

02) Filosofia da Linguagem II - A semiótica de Peirce e o antipsicologismo da lógica

03) Filosofia da Linguagem III - A conceitografia de Frege e o antipsicologismo da lógica

sábado, 24 de agosto de 2013

FILOSOFIA DA LINGUAGEM III - A CONCEITOGRAFIA DE FREGE E O ANTIPSICOLOGISMO DA LÓGICA




Frege é analisado em dois pontos: a concepção das leis da lógica como leis descritivas, do ser verdadeiro, e, portanto, é uma ciência que não se confunde com a psicologia pela natureza da sua investigação, que descreve o que é ser verdadeiro e distingue o verdadeiro do falso, não se atenta a como pensamos e nem os atos de pensamento de alguém, mas descreve as leis eternas e imutáveis do ser verdadeiro e a partir disso têm-se prescrições, normas, para julgar, ajuizar, afirmar, negar se uma coisa é ou não é. Pela descrição do ser verdadeiro pela lógica podemos tirar normas para dizer que uma coisa é ou não é verdadeira, ou falsa, se corresponde ou não aos fatos, e por isso, distingue-se da psicologia nesse sentido. 

O outro ponto é o escrito “O Pensamento” com uma filosofia da linguagem que incide, que a partir da logica como ciência do ser verdadeiro, pode investigar e como se pode tirar daí normas para julgar, pensar, raciocinar e fazer silogismo, e surge toda uma filosofia da linguagem, dos atos de fala, e uma investigação do pensamento, do que seja o pensamento e estabelecer um âmbito objetivo, não redutível às representações mentais que possibilite a comunicação, a intersubjetividade. A expressão do pensamento pela linguagem, onde a linguagem natural exprime o pensamento, mas o exprime com diversas colorações, que são importantes para a poesia e comunicação cotidiana, mas para exprimir o pensamento é preciso de uma linguagem formal, precisa, sem ambiguidade e colorações, que é o projeto de conceitografia fregeniana. 




PREFÁCIO À CONCEITOGRAFIA

“Se uma das tarefas da filosofia for romper o domínio da palavra sobre o espírito humano, desvendando os enganos que surgem, quase que inevitavelmente, em decorrência de utilizar a linguagem corrente para expressar as relações entre os conceitos, ao liberar o pensamento dos acréscimos indesejáveis a ele associados pela natureza dos meios linguísticos de expressão, então minha conceitografia, desenvolvida sobretudo para esses propósitos, poderá ser um valioso instrumento para os filósofos. Por certo, ela também não reproduz as ideias de forma pura, já que isto não é possível quando as ideias são representadas por um meio [de expressão] exterior [à inteligência]. O que é possível, por um lado, é confinar tais discrepâncias [ conceitográficas] ao inevitável e ao inofensivo e, por outro, por estas diferirem daquelas [discrepâncias] que são próprias da linguagem corrente, elas nos protegem da influência unilateral de um meio particular de expressão.” [G. Frege, prefácio à Conceitografia. Em: Lógica e Filosofia da Linguagem, p. 47]. 


A CONCEITOGRAFIA DE FREGE E O ANTIPSICOLOGISMO DA LÓGICA

Assim como Peirce, Frege continua no tema do antipsicologismo para se analisar a Lógica. Em “Fundamentos da Aritmética”, o autor encara o dilema de saber o que é um número sem realizar uma análise empírica ou psicologista, mas sim compreendendo esse conceito fundamental numa perspectiva lógica, enquanto fundamento da aritmética. Nessa análise, ao se deparar com a constatação de que os conceitos matemáticos não se formam subjetivamente, Frege procura desenvolver uma análise que atinja, com maior rigor e exatidão, uma teoria dos números. Nasce assim, seu projeto de fundamentação lógica da aritmética por meio de uma construção de uma conceitografia.

A conceitografia é, portanto, uma linguagem simbólica logicamente exata. Para o filósofo, a linguagem se fundamenta no conhecimento científico, e analisando a forma da linguagem pode-se apreender o pensamento possível. Isso significa que os pensamentos não estão nas pessoas, e não são produzidos pelas pessoas, mas sim, são captados e apreendidos pelas pessoas, uma vez que as pessoas podem pensar, julgar e asserir tais pensamentos. Para que tais pensamentos não sejam intencionados segundo as subjetividades dos sujeitos da enunciação, é preciso exprimi-los exatamente e sem ambiguidades, por meio de uma linguagem formular que seja perfeita, inequívoca e logicamente rigorosa, e que, portanto, aponta a forma lógica do pensamento em si.

Mesmo enfrentando os filósofos empiristas, Frege destaca que a conceitografia tem por escopo possibilitar essa análise lógica, ao eliminar recursos de intuição e impressão sensorial, o que dessa forma, possibilita que os números sejam demonstrados dedutivamente e não indutivamente. Nessa discussão da conceitografia, o filósofo ainda aponta que o objetivo de seu projeto é ser um melhor método de prova da verdade, pois se utiliza uma linguagem simbólica, absolutamente formal, podendo expressar a maneira mais geral e exata de inferência do pensamento. Caso isso não ocorra, corre-se o risco de cair no psicologismo, onde a verdade não se eleva, mas sim as representações do pensamento humano enquanto definição do conceito. 

Para o autor, o psicologismo, em nada contribui para formular os fundamentos da aritmética ou para a expressão lógica dos conteúdos judicativos. O que equivale também à historicidade das representações de uma verdade, própria do psicologismo, uma vez que a verdade alcança pela conceitografia apresenta-se de forma constante e fixa, garantindo o conhecimento, apartado do “fluxo constante de todas as coisas”, como ocorre nas representações psicologistas.

Tem-se assim que o projeto de Frege com a conceitografia visou simplificar a aritmética, apontando para seus princípios fundamentais de forma a reduzi-los a certo numero definido de noções lógicas. 

Rodrigues (2013, p. 37) preleciona como sendo os princípios da conceitografia:

1. Separar precisamente o que é propriamente psicológico e subjetivo do que é lógico e objetivo;

2. Só tentar uma elucidação da significação ou do significado de um conceito no contexto de sua proposição ou sentença em que o conceito aparece, não o tomando isoladamente sem relação com outros;

3. Distinguir entre o conceito e o objeto. 

Partindo de tais princípios, tem-se que Frege concebe a lógica como uma ciência prescritiva, ou normativa, já que ela descobre as leis de todo o pensamento verdadeiro. Seu objeto é o ser verdadeiro, ao buscar estabelecer quais são as leis que o descrevem e pelas quais ele se regula. Isso significa que tais leis não descrevem como se pensa, mas sim como se deve pensar ao se quer sustentar a diferença entre algo que seja verdadeiro ou falso.

As leis da lógica se diferenciam, portanto, das leis psicológicas dos processos mentais, justamente porque aquelas visam estudar a estrutura dos conceitos, o que eles são e do que são. São normativas justamente porque indicam as condições necessárias para o ser verdadeiro, descrevendo-o, de forma independente, para se tirar prescrições para asserir, julgar, raciocinar de forma correta, diferentemente das prescrições normativas da psicologia, que consideram como verdadeiro aquilo que vale em conformidade com certos hábitos ou padrões do pensamento.

As verdades logicas independem de qualquer ato de pensamento efetivo. Sua finalidade é estudar as condições para se asserir o verdadeiro e o falso, independentemente de contingencias, razão pela qual as verdades lógicas possuem o caráter de serem universais e necessariamente válidas, já que não se importa com quem as pensa, nem como as pensa, não necessitando também de serem justificadas. 

Nesse ponto está a fundamentação da crítica de Frege ao psicologismo, ao explicitar dois de seus equívocos. O primeiro diz respeito ao psicologismo não conseguir diferenciar atos de juízo de conteúdos judiciáveis. O segundo, à confusão entre o domínio objetivo e o subjetivo existente quando o psicologismo reduz tudo (o ser e o ser representado) às suas meras representações. A fundamentação fregeniana está ao apontar que conhecer algo é apreender seu conceito, e não representa-lo por meio de objetos externos. Não é explicar o processo, mas explicitar o que se conheceu, independentemente de conteúdos representacionais próprios da consciência. 

A crítica ao psicologismo é que ele confunde o objetivo com o subjetivo, fazendo com que as representações (subjetividades mentais) fiquem imanentes somente na mente do sujeito empírico que as cria, impossibilitando que outras pessoas tenham, portanto, acesso ao conhecimento. Em razão disto, Frege postula o domínio do objetivo não-efetivo da verdade, o domínio do ciência da lógica, do pensamento, que é uma verdade que todos tem acesso, negando a subjetividade e o acesso à verdade por meio de representações, bem como negando o acesso à verdade por meio da correspondência entre representado e representação da análise subjetiva de objetos particulares. 

Nessa recusa à representação da verdade por meio da análise subjetiva entre a correspondência do representado e sua representação, Frege destaca a necessidade de se pesquisar a verdade passando pela pesquisa da linguagem, ou seja, saindo do nível discursivo e avançando para o nível semântico, seu sentido sentencial, já que por meio dele é que se pode qualificar o pensamento. Isso significa que o pensamento é o sentido expresso pela sentença, é tudo que pode ser qualificado como verdadeiro ou falso. Assim, tem-se que nem todo sentido sentencial corresponde a um pensamento, mas que todo o pensamento pode ser expresso como um sentido sentencial. O pensamento é, dessa forma, perceptível pelo sentido sentencial, que é distinguido pelo suporte empírico da linguagem, o que aponta para a dificuldade de que, nem sempre, a forma linguística consegue traduzir tal pensamento.

Portanto, tem-se assim que a conceitografia é uma linguagem simbólica logicamente exata, já que pela linguagem se fundamenta o conhecimento cientifico, e pela sua forma (da linguagem), é que se torna possível apreender o pensamento.


REFERENCIAS:

FREGE, Gottlob. Os Fundamentos da Aritmética. Tradução de Luis Henrique dos Santos. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

RODRIGUES, Cassiano Terra. Filosofia da Linguagem I: Guia de Estudos. Lavras: UFLA, 2013, p. 34-48.


OBSERVAÇÃO: 

Este texto é um resumo que produzi com o material de aula de disciplina “FILOSOFIA DA LINGUAGEM I” da Graduação em Licenciatura para Filosofia da UFLA – Universidade Federal de Lavras EaD Campus Governador Valadares, produzido em 24/08/2013.


VEJA TAMBÉM:


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

FILOSOFIA DA LINGUAGEM II – A SEMIÓTICA DE PEIRCE E O ANTIPSCOLOGISMO DA LÓGICA




A primeira crítica do psicologismo da lógica de depois de Mill e Kant foi feita por Peirce. Inventor de uma semiótica, uma doutrina, uma teoria, quase formal, necessária, universal, dos signos, não só da linguagem, mas de todo e qualquer signo. 

Na juventude, criticou que reduzir a logica à psicologia é equivocar-se sobre a natureza do estudo da lógica, que não estuda o pensamento, a não ser se ele se exprima em signo. Não como alguém pensa o pensamento de outra pessoa, mas como qualquer pensamento pode ser exprimido em signos. Significa que é a própria forma dos signos que significa alguma coisa. Pela forma como estão organizados, os signos significa alguma coisa. 

É possível então interpretar uma palavra, um sinal, pela forma como ele se apresenta para nós, independentemente de quem emita ou pense algo, mas é a possível da interpretação pela forma da manifestação fenomênica que está na base da refutação do psicologismo na lógica. Peirce faz uma semiótica baseada na fenomenologia e tenta uma classificação dos signos mais abstrata possível, baseadas nas suas categorias fenomenológicas. 


O argumento de Peirce contra o psicologismo na concepção kantiana da lógica

A concepção kantiana da lógica não abandona o psicologismo, pois pretendia ver os símbolos como expressões ou produtos da ação mental. Pela concepção de Kant, o processo de pensar começa a ser realizado subjetivamente, para posteriormente se passar a compreender como se relaciona os símbolos que se usam para exprimir os pensamentos, o que disso resulta serem os símbolos (palavras, signos em geral, etc.), objeto próprio da lógica. 

Peirce refuta e propõe a superação do psicologismo em termos simbólicos, ou seja, através de uma linguagem formal que se propõe superar o modelo mentalista, subjetivista de representação herdado da filosofia moderna. Se em Mill, Peirce encontra o que considera “pior que errôneas” na compreensão da lógica – pois aquele a entendia como operações do entendimento, como atos da mente, ou fatos do intelecto –, em Kant, Peirce aponta para um relativo avanço, ao considerar que na concepção kantiana o psicologismo não estava em sua essência, porém, ainda compreendendo de algum jeito, que as formas lógicas exprimem conteúdos mentais.

Nesse sentido, Peirce argumenta que a Lógica ocupa-se dos próprios símbolos e não da ação da mental a partir dos símbolos. Ao inverter a direção do processo, a lógica deve ser vista como uma análise dos símbolos – pensados por um sujeito ou não; entendidos ou não; manifestados sejam palavras, preposições, argumentos, em signos em geral; estando em alguma mente ou não –, para depois se chegar ao pensamento, por eles produzidos.

Não há, portanto, espaço para mentalismo. Analisa-se a forma do símbolo, e pela forma, estruturam-se os pensamentos para que estes correspondam aos fatos. A linguagem se apresenta aqui como forma de expressão da manifestação material do pensamento, onde o significado está na palavra ou em outras representações materiais. A lógica se ocupa, portanto, das condições necessárias para que algo seja representado. Na análise da representação, pela lógica, a ideia formal em que se ocupa a análise, manifestasse na proposição de símbolo, uma vez que a representação possui denotação (aplicação do símbolo ao objeto) e conotação (possibilidade de ter um significado), ou seja, a representação ao se relacionar com o objeto representado pode ser, pela lógica, analisado quanto à sua verdade ou falsidade. 



O lugar da semiótica na classificação das ciências de Peirce e sua relação com a estética e a ética

Peirce propõe-se analisar a semiótica na classificação das ciências que elaborou, considerando-a uma superação à lógica aristotélica, e o fez ao caminhar para um realismo metafísico, onde há uma doutrina formal dos signos, e, portanto, a semiótica se relaciona com a estética e a ética, sendo marcada pela originalidade em seu embasamento, pois enquanto a estética ocupa-se do que deve ser admirável em si mesmo (e por isso acha atenção dos sentidos), bem como a ética ocupa-se do que deveria ser admirável na ação, ela (a semiótica), enquanto categoria das ciências normativas se destaca por ir além, ocupando-se do que é admirável no pensamento, uma vez que o ato de pensar é considerado uma ação.

A semiótica, portanto, enquanto ciência normativa ultrapassa a análise da linguagem, abordando todo e qualquer tipo de signo, de veículo de significação de qualquer fenômeno percebido. Sua busca é entender o processo de significação, e não os signos em si mesmos, ou as formas de linguagens em si mesmas, já que seu escopo é compreender as condições que são necessárias para que os signos possam desenvolver suas funções.

Na análise das classificações das ciências proposta por Peirce, a semiótica é um dos tipos das ciências normativas. Ao lado da ética e da estética (e resguardadas as suas diferenças acima apontadas, a partir de seu caráter de originalidade), a lógica, enquanto semiótica é uma ciência normativa, pois visa analisar as condições necessárias para se conseguir algo que tenha o proposito como um de seus elementos essenciais. 

Tais ciências objetivam a compreensão de como o sujeito se relaciona com os fenômenos e como as ações devem ser a partir de então. Busca-se, portanto, os elementos que definem tais ações, considerando seus fins estabelecidos em determinadas conjecturas. Possuem o caráter de normatividade uma vez estabelecerem as condições necessárias, ou seja, as normas, para que se possam atingir os determinados fins estabelecidos.

Ressalta-se que as ciências normativas são uma subclasse (ao lado da fenomenologia e da metafísica) da Filosofia, ou cenoscopia, que por sua vez é uma classe do sub-ramo das ciências teóricas, a saber, a classe das ciências da descoberta, ou heurística. 



O que é um signo? É necessária uma mente humana para interpretar um signo?

O signo pode ser compreendido como algo que é capaz de ser interpretado e que diz algo acerca de um objeto. Nas palavras de Peirce, “ele é um signo para algum pensamento que o interpreta”, também “é um signo por algum objeto ao qual, nesse pensamento, ele é equivalente”, bem como “é um signo sob algum aspecto ou qualidade, a qual o coloca em conexão com o seu objeto”.

Esse processo de semiose, ou seja, interação entre os signos, se dá, sendo a concepção peirciana sem a necessidade de nenhuma mente humana para que os signos possam sejam interpretados, podendo existir signos que interpretam outros signos, como um computador. Ora, o signo como algo que é possível de interpretação e que revela alguma coisa do seu objeto, é aquilo a que o signo e quem/o que o interpreta se referem. Os objetos que podem ser signos constituem o universo do discurso, onde qualquer coisa pode ser um signo, e para se compreender do que se trata, é preciso que esse signo seja interpretado. Há, portanto, nessa análise do signo a necessidade de uma relação triádica, entre o signo, o objeto e o interpretante.


Como podem ser os signos classificados? Quais são as ideias básicas de cada classificação?

Já que na análise dos signos é preciso considerar suas funções lógicas do processo de significação, os signos podem apresentar três classificações que levam em consideração a relação que possuem a si mesmos, aos seus objetos ou aos seus interpretantes. 

No sentido de “a si mesmos”, os signos podem ser classificados quanto à sua própria natureza material, ou seja, a ideia de pura possibilidade, de vagueza, de uma qualidade sensitiva sem determinação. Peirce apresenta as denominações:

a) qualissigno, quando um signo é da natureza de uma aparência;

b) sinsigno, quando um signo é um objeto ou um evento individual;

c) legisigno, quando um signo é da natureza de um tipo geral.

No sentido de “aos seus objetos”, os signos transmitem a ideia de existência, de dualidade, de singularidade ou efetividade fática. Peirce apresenta as denominações da tricotomia:

a) ícones, representando seus objetos apenas na medida em que eles se assemelham de forma mútua;

b) índices, representando seus objetos independentemente de qualquer semelhança entre eles, somente em virtudes de suas conexões reais com eles;

c) símbolos, representando seus objetos também independentemente de qualquer semelhança ou qualquer conexão real, mas em razão de disposições ou hábitos de fato de seus interpretes, que asseguram que sejam entendidos de certa maneira.

No sentido de “seus interpretantes”, os signos transmitem a ideia de relação lógica necessária, de generalidade, lei ou regra. Peirce denomina-nos em:

a) rema, um verbo na linguagem gramatical;

b) signo dicente, como uma proposição, um signo capaz de ser asserido;

c) argumento, que demonstra qual é seu interpretante pretendido, como uma lei, regra necessária.


BIBLIOGRAFIA:

PEIRCE, Charles S. O que é um signo? Em: MARCONDES, D. (org.). Textos Básicos de Linguagem – De Platão a Foucault. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009, pp. 72-78. 

RODRIGUES, Cassiano Terra. Filosofia da Linguagem I: Guia de Estudos. Lavras: UFLA, 2013, p. 34-48.


OBSERVAÇÃO: 
Este texto é um resumo que produzi com o material de aula de disciplina “FILOSOFIA DA LINGUAGEM I” da Graduação em Licenciatura para Filosofia da UFLA – Universidade Federal de Lavras EaD Campus Governador Valadares, produzido em 21/08/2013.


VEJA TAMBÉM: