quarta-feira, 20 de novembro de 2013

FILOSOFIA DA LINGUAGEM VII - SCHOPENHAUER: LINGUAGEM E MUNDO



O conhecimento que não depende de linguagem:

Na concepção de Schopenhauer o conhecimento advém da experiência. Porém, ele entende que alguns conhecimentos são a priori da mente, são as “formas puras”, que possibilitam perceber acontecimentos, a partir de uma relação de causa e efeito, daí surgindo o conhecimento, que é expresso por meio da faculdade da razão (por conceitos e palavras), não dependendo, portanto, da linguagem para existir.

Segundo o filósofo, o que se recebe dos sentidos é estruturado pelas intuições puras, podendo se mapear as potencias do intelecto a partir da causalidade, do espaço (forma dos sentidos externos) e o tempo (forma dos sentidos internos), e que a partir disto, pode-se acessar o mundo fenomênico pela experiência.

É pelo entendimento, enquanto faculdade da intuição, é que se processam os dados sensoriais, transformando-os em representações, sendo esta a diferenciação entre os homens e os animais: os homens, ao utilizarem conceitos em relação às representações intuitivas, demonstram uma racionalidade abstrata que possuem e os diferem dos animais que, embora possuam sensibilidade para a realidade, não abstraem do particular para o universal.

O homem, pelo entendimento, consegue conhecer o efeito a partir da causa, o que torna possível estabelecer uma relação que intua o mundo, ratificando que toda a intuição é intelectual, onde se podem formar imagens, cuja atividade cerebral possibilita perceber um objeto. O entendimento ocorre quando da sensação subjetiva se passa para a intuição objetiva, que é cerebral. O que os olhos veem são os efeitos. Pelo espaço pode se formar o sentido externo e situar o objeto como exterior ao organismo. Assim, o reconhecimento do objeto, pelo processo de intuição objetiva é intelectual.

Nesse sentido, o processo de intuição de objetos da realidade é espontâneo e imediato, não sendo considerada uma tarefa discursiva, reflexiva, abstrata, lógica e realizada por meio de conceitos. Há uma independência entre o conhecimento obtido pelo entendimento e o discurso racional estruturado pela linguagem, entre o entendimento que intui e a razão pela que pensa e conceitua abstratamente a respeito do objeto.




As consequências epistemológicas e ontológicas:

As consequências para a epistemologia do conhecimento a partir da experiência, de forma intuitiva, cuja aparição de objetos da realidade é uma atividade intelectual, interna, e, portanto, no âmbito da subjetividade, a partir da causalidade, do tempo e do espaço, é que só se pode falar em “verdade” e em “não verdade” no âmbito do discurso racional, ou seja, o que se é conhecido pela razão corretamente é tido como “verdade” ou “não verdade”, caso seja não correto, uma vez que a noção de verdade demanda de juízos, de uma concepção de linguagem acerca de uma lógica mínima para explicar as ligações entre os conceitos que definem objetos em mudança, ou a partir de conexões entre eles (os objetos) quando estes se ausentam. 

Por sua vez, o que é conhecido como correto pelo entendimento ou cérebro, ou seja, pela intuição, chama-se de realidade ou efetividade. Não há no entendimento a verdade ou não verdade, porque ele se dá no âmbito interno, uma vez que a intuição sempre mostra o mundo em sua ingenuidade, havendo erros, portanto, somente na razão (conhecimento) e nunca na intuição. 

Nesse sentido, a razão, enquanto faculdade da linguagem, se apresenta com um papel considerado secundário na constituição da realidade e do conhecimento, haja vista que serve como instrumental para as intuições do entendimento. A linguagem, por meio de conceitos e palavras, não consegue dar conta da realidade que existe por trás das intuições empíricas. 

Ontologicamente, trata-se da ordem da hierarquia natural, onde a filosofia deve fazer referencia ao mundo da subjetividade dado no tempo ou à objetividade dada do espaço-tempo e na causalidade. Isso aponta para o papel secundário da razão face ao entendimento que intui do real. Nesse sentido, cabe como consequência a critica schopenhaueriana ao sistema filosófico metafísico a partir da análise da filosofia da linguagem, que se assenta numa abstração conceitual para se ler o mundo, “desprezando a fonte do conhecimento, precisamente a ordem sensível, intuitiva das coisas” (Barboza, 2011, p. 41). 

Enquanto papel secundário da razão que processa o pensamento por meio das palavras, tal crítica é relevante, haja vista que as palavras são abstratas, mais universais que particulares, tornando-se vazias. Assim, a filosofia precisa atentar-se às regras de funcionamento da linguagem e às suas características e peculiaridades, haja vista que um mau posicionamento pode transformar a reflexão filosófica num discurso vazio e longe da verdade. 

Por fim, para Schopenhauer não há uma verdade absoluta, detectável de modo universal, por meio de um discurso elaborado pela razão. À Filosofia compete verdades empíricas, por meio do isomorfismo entre a linguagem e o mundo, sem ser exata e limitada como se propõe a matemática e a ciência, e sem ser formalmente rígida como a lógica que advém do pensamento e de suas leis que limitam as verdades por seus discursos, se distanciando da realidade. Cabe, portanto, ao pensamento ser flexível linguisticamente para a existência de verdades e para as formas distintas de se dizer o mundo, sem haver predileção por uma em detrimento de outras.


BIBLIOGRAFIA:

BARBOSA, Jair. Schopenhauer: Linguagem e Mundo. In: Filosofia da Linguagem II. Florianópolis: Filosofia/EAD/UFSC, 2011. p. 29-48.


OBSERVAÇÃO:

Este texto é um resumo que produzi com o material de aula de disciplina "FILOSOFIA DA LINGUAGEM II" da Graduação em Licenciatura para Filosofia da UFLA - Universidade Federal de Lavras EaD Campus Governador Valadares, produzido em 20/11/2013.


VEJA TAMBÉM:

Filosofia da Linguagem I - O antipsicologismo da Lógica em kant e John Stuart Mill

Filosofia da Linguagem II - A semiótica de Peirce e o Antipsicologismo da Lógica 

Filosofia da Linguagem III - A conceitografia de Frege e o Antipsicologismo da Lógica

Filosofia da Linguagem IV - A teoria das descrições definidas de Russell e o Antipsicologismo da Lógica

Filosofia da Linguagem V - Wittgenstein e os Limites da Linguagem

Filosofia da LInguagem VI - Hume: Linguagem e Experiência

Ética II - David Hume e a Teoria sobre o Sentimento Moral na Filosofia Moderna

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