quinta-feira, 24 de abril de 2014

TEORIA DO CONHECIMENTO – PARTE 4: MARTIN HEIDEGGER

O presente texto é uma produção realizada a partir de um fichamento das atividades propostas na disciplina “Teoria do Conhecimento” do Curso de Licenciatura em Filosofia, que realizo pela Universidade Federal de Lavras, em 24 de abril de 2014.

A primeira parte deste estudo sobre a Teoria do Conhecimento em Platão, você pode acessar aqui. Já a segunda parte, sobre a Teoria do Conhecimento em Descartes e Hume, você acessa aqui. Por fim, a terceira parte, sobre a Teoria do Conhecimento em Kant, você acessa aqui.

Sugiro a leitura de duas publicações antes de ler a postagem abaixo. A primeira é o "Ser e tempo", de Heidegger”, no blog de André Coelho, em duas partes, acessando aqui. A segunda é “O homem na Filosofia de Martin Heidegger”, por Luciano Gomes dos Santos, acessando aqui


A fenomenologia existencial de Martin Heidegger

1) A crítica fenomenológica das hipostasias realista e idealista e a ideia de intencionalidade:

A teoria do conhecimento tem por escopo a análise do processo de surgimento do conhecimento para o indivíduo. Nesse sentido, o processo de conhecimento na modernidade diz respeito à verificação para validar. Heidegger ao questionar os princípios da teoria do conhecimento e a modernidade propõe que se investigue a verdade no que tange a sua originalidade. Assim, tem-se que a adequação entre presença e mundo ocorre no compreender o conhecimento e não o processo do conhecimento. É analisar se o conhecimento é verdade ou falsidade, adequado ao objeto de análise e, portanto, produz juízo verdadeiro. O filósofo critica a teoria do conhecimento moderna porque, para ele, ela não se aprofunda na originalidade do conhecimento, nem em sua verdade, não se preocupa com a questão do ser do ente que produz tal verdade, que é a quem o ser verdadeiro, em sua primeira instância, se refere, ou seja, a presença. Afirma ainda que a intencionalidade deve ser analisada enquanto desdobramento da vida real, enquanto existência que é, e deixando, portanto, de ser somente uma atitude ou uma orientação formal, abstrata. É a vida real do Dasein, ou seja, que designao tipo de comportamento no qual a realidade da vida humana produz para si mesmo e para o mundo também.


2) Proposta heideggeriana de pensar o fenômeno humano como ser-aí (dasein), ser-no-mundo e a crítica à subjetividade moderna:

Heidegger afirma que o fenômeno está inserido em tudo em que se manifesta, porém, é desprezado, cabendo à filosofia descobri-lo. O fenômeno é o ser, cabendo ao homem compreender o ser. O homem é o ser ontológico, que possui o compreender, o logos do ser. Heidegger propõe descrever a existência, porém, esta é o modo especifico de ser do homem, ou seja, do Dasein (o ser-aí), ou seja, o ser enquanto ser de fato, como se encontra no mundo, bem como o lugar em que se manifesta enquanto ser. Começa a descrever o homem na vida cotidiana, e não como se tem na filosofia da subjetividade moderna existente, onde o conhecer se dá a partir do relacionamento com o mundo, e nem como o conhecer enquanto qualidade que há o interior do sujeito.


3) A análise dos utensílios e a crítica ao primado da teoria:

Heidegger entende que o mundo é um conjunto de utensílios, isto é, coisas que serão usadas à mão, e não coisas presentes, que serão olhadas. Manuais são os entes que se manifestam para o uso, podendo ser um instrumento, um utensilio, uma ferramenta, ou seja, que possam ser manuseadas. Assim, pode-se entender como o utensilio em si mesmo se revela ao ser-no-mundo. Já a critica ao primeiro da teoria se refere aos utensílios sem ocupados e que podem ser apropriados enquanto meras coisas ou como uma função. Heidegger aponta que ambiguidades sobre o modo em que os utensílios são compreendidos, para que se rompa com uma dimensão utensiliar, ou seja, primeiro como teoria e depois enquanto prática. 



4) Crítica ao conceito tradicional de verdade como correspondência e a volta à alétheia (verdade como descoberta):

Heidegger propõe da questão da verdade com vistas a atribuir um significado diferenciado da tradição. Analisando a conceituação tradicional da verdade, procura seus fundamentos ontológicos, e aponta que o ser da verdade vincula-se à essência da verdade, ou seja, que ela ocorre e como ocorre. Ele conclui que “A verdade não possui, portanto, a estrutura de uma concordância entre conhecimento e objeto, no sentido de uma adequação entre um ente (sujeito) e outro ente (objeto)” HEIDEGGER (1993, p. 289). Assim, quando se tem um enunciado tido como verdade, isso significa que se tem o ente descoberto, não havendo adequação relacional entre um ente e outro, entre sujeito e objeto, há somente o deixar ver o ente em si mesmo. O descobrimento do ente é o ser verdadeiro do ente. A verdade quando descobrir surge, portanto, das análises do Dasein e suas atitudes tidas como verdadeiras. Assim, o verdadeiro que ocorre nessa ação de descoberta é o Dasein, a verdade é esse ser descoberto. Justamente por estar verdade a si mesmo e ao mundo, pode-se ter a originalidade da verdade. O Dasein é a verdade e está na verdade.


5) Crítica do juízo como lugar originário da verdade:

Para Heidegger, a verdade para se descoberta não passa pela teoria do conhecimento como esta se dá, ou seja, enquanto uma designação que se identifica num determinado juízo. Trata-se da buscar o que se mostra a partir de si mesmo. Para tanto, aponta três teses do que seja o conceito tradicional da verdade. A primeira diz que a verdade é um juízo, ou que se está em algum lugar e pode ser encontrada. Já a segunda diz que a verdade está na concordância que ocorre entre o juízo e seu objeto. Por fim, a terceira diz que a verdade está num juízo, sendo, portanto, uma concordância. Não se encontra numa concordância existe numa proposição, pois nem sempre uma relação se dá em concordância.



6) Martin Heidegger e a sua descrição do ser-aí:

“A teoria do conhecimento […] tem insistentemente tomado a relação sujeito-objeto como base de seu questionamento. Entretanto, tanto a explicação realista quanto a idealista tinham de falhar justamente porque o explicandum não estava suficientemente definido. A maneira segundo a qual tornar claro o problema acima determina todos os esforços de colocação da questão é evidente pelo fato de que as consequências do primeiro refinamento de nosso problema, ali onde ele é realmente realizado e alcançado, conduzem a um desaparecimento da possibilidade mesma da colocação da questão em termos de teorias do conhecimento, idealistas ou realistas.” (HEIDEGGER, M. GA 26: 163–4. Tradução nossa)


Por meio da Fenomenologia, Heidegger se põe a investigar o ser, abordando os objetos do conhecimento como eles aparecem, ou seja, como se apresentam à consciência. Para tanto, tem por ponto de partida aquele ser que se dá a conhecer de forma imediata, ou seja, o próprio homem. 

É preciso passar pelo homem para se chegar ao ser, pois o homem encontra-se sozinho e pode interrogar a si mesmo, se autoquestionar e refletir sobre seu próprio ser. É preciso partir da existência humana para que possa elevar-se até que o conheça o ser de si mesmo, pois é este o objetivo do refletir filosófico. 

Para Heidegger, o homem é um dasein, um ser que se encontra aí, é o ser-aí, é o homem tudo o que se pode dizer, pois sua natureza humana é despojada de todo atributo que possa ser estável. O “da” (aí) visa mostrar que o homem encontra-se sempre numa determinada situação, atuando nela e sempre em relação ativa com si mesmo. 

Ele não se pergunta somente sobre a sua própria existência, pelo contrário, o ser aí trata-se do ente que não se reduz a uma noção que possa ser aceita como correta numa filosofia ocidental com a objetividade pela qual o ser é definido. Não se trata de uma simples presença, de forma objetiva, é o único ente que depende de seu ser. O homem se torna um ser consciente e atua enquanto protagonista de sua existência quando se propõe à verdade sobre si mesmo, a partir de uma revelação do ser. 



7) A crítica heideggeriana à ideia de verdade como adequação do intelecto à coisa tal como desenvolvida no parágrafo quarenta e quatro de sua obra Ser e Tempo e sua defesa de que verdade é descoberta.

Heidegger quando se propõe a investigar sobre a verdade procura uma ontologia fundamental, que busque sobre o que o ser mostra de si mesmo, deixando a mera análise conceitual, fruto da tradição, para a exposição de fundamentos ontológicos, ou seja, aqueles que demonstram a originalidade da verdade. 

O “ser – verdadeiro (verdade) diz ser – descobridor” (p. 289),de Heidegger aponta para o ser verdadeiro, ou seja, onde um ser além de enunciado como verdadeiro é aquele que encontra-se descoberto, e assim não se tem uma relação de adequação entre um ente (o sujeito) e outro ente (um objeto). Há assim a possibilidade de deixar-se ver em si mesmo pelo sujeito. Assim, o descobrimento do ente, que outrora estava encoberto, é o ser verdadeiro, razão pela qual se têm que o ser verdadeiro é descobridor. 

O filosofo utiliza a figura do dasein enquanto o ser aberto para si, que se constitui para a abertura, apontando para verdade, que aberta para si mesmo, também está aberta para as coisas e para o mundo. Tem-se que a verdade ocorre quando o dasein é, não existindo antes ou depois a verdade, já que a verdade é a abertura, a descoberta, nunca o encobrimento. 

Assim, tem-se uma mudança em relação ao conceito tradicional de verdade, produzindo uma relação de adequação entre um ente (o sujeito) e outro ente (o objeto), podendo a partir de si mesmo, ser um ser descobridor, um ser ente que se permite ser descoberto, desvelado. É esse desvelamento a verdade que ocorre com o ser. 


BIBLIOGRAFIA:

HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Trad. de Fausto Castilho. Campinas, SP: Editora da Unicamp; Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. § 9, 12, 13, 15, 43 e 44.


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